Para muitas pessoas, a idéia de fazer com que os outros sintam o peso da vergonha e da humilhação é uma forma de educar, de orientar os outros a se comportarem sob a égide da moral, da ética. Ou seja, é uma forma de fazer com que os outros sejam submetidos à vontade de quem orienta. Isso acontece nas famílias, nas escolas, nas empresas, acontece em toda a sociedade.
Mas humilhar pessoas, fazê-las passar vergonha, é um ato de violência. Assim, estupidamente acabamos gerando mais e mais violência. A violência não está apenas na utilização de armas, na utilização de violência física.
A pior violência é a psíquica, a violência de gestos, de palavras, de expressões faciais, de fazer com que nossos semelhantes passem por humilhações e constrangimentos. Este tipo de violência é praticado o tempo todo em nossa podre e decadente sociedade.
Muitos aspectos da vergonha estão ligados também à raiva. Ser exposto a zombaria, humilhação, ridicularização, exposição, desonra, embaraço, retaliação, castigo, punição, rejeição, deboche, sarcasmo, constrangimento, gera raiva.
Parece muito claro. Quase todos nós, um dia, já passamos por situações onde nos vimos expostos por alguém. E, neste momento, sentimos raiva, vergonha. Quase todos nós, um dia, já passamos por situações onde fomos publicamente humilhados. E, neste momento, sentimos raiva, vergonha. Não gostamos, mas estupidamente repetimos essa mesma atitude para com os outros.
Rebaixar o próximo a partir de valores subjetivos, de padrões, de conceitos e preconceitos, é uma ação muito distante da moral. É mais uma de nossas necessidades de auto-afirmação, mais uma prova de nossa fraqueza, de nossa estupidez, de nossa ignorância. Quando não temos autoridade e sim poder, utilizamos destes recursos baixos.
Uma ação moralmente condenável é chamada de vergonhosa, e seu autor é chamado de “sem vergonha” ou apontado como “aquele que não tem vergonha na cara”. Como esse tipo de insulto é considerado grave em nossa sociedade, há ainda os que preferem substituí-lo por “cara de pau”, um termo considerado bem mais leve para designar a mesma coisa.
Quando ficamos vermelhos, não estamos mostrando que possuímos honra ou moral. Estamos, sim, mostrando que não compreendemos algo, que temos muito apego à nossa auto-imagem, nossas ilusões sobre nós mesmos, estamos mostrando que somos escravizados por regras, padrões, valores, conceitos impostos pela sociedade. Mas isso não significa que aquele que não enrubesce seja perfeito, nem que tenha profunda compreensão da vida ou coisa parecida.
Muitos estudiosos da psique humana acreditam que a vergonha, a culpa e o medo são fundamentais para desenvolvimento da moralidade humana. Em verdade, se dependemos destes sentimentos, emoções e sensações para não praticarmos determinados atos, é porque não temos consciência alguma, estamos dormindo profundamente.
A noção do que é moralmente vergonhoso é muito relativa, muito subjetiva, tanto que, muitas vezes, chegamos a achar bonito “armar barracos”, fazer escândalos, gritar com os outros, humilhá-los, agredi-los, descarregar neles nossa raiva, nossa irritação. É um comportamento cruel e estúpido, do qual sentimos até orgulho. Sempre arrumamos justificativas nobres para tais atos.
Não parece muito provável que alguém deixe de roubar só pela vergonha de ser visto roubando. Em verdade, parece absurdo, ridículo mesmo. É a falta de consciência que nos leva a estes atos.
Não existe motivo nobre para o roubo, não existe motivo que justifique o roubo. Se alguém passa por necessidades e rouba, talvez seja porque tenha vergonha de pedir, porque não tenha a humildade necessária para pedir, porque não aceite sua situação – neste caso, a vergonha de roubar pode ter sido superada por uma vergonha maior.
O medo, a culpa e a vergonha são sentimentos muito limitados para servirem de base à constituição da moralidade humana. A verdadeira moralidade nasce de dentro de nós, nasce da consciência, não é um princípio subjetivo, algo que dependa de grupos, conceitos ou valores; não é uma moralidade do ego. A verdadeira ética e a verdadeira moral devem estar acima dos costumes de épocas e locais.
Se a moralidade não nasce de dentro de nós, o agir moral ocorrerá somente para parecermos ter moral, não passaremos de reles imitadores. Assim, com uma moral periférica, nosso comportamento estará sujeito ao girar da roda.
Palavras de: Fabio F Balota
Postado em "Gostas de Sabedoria"
http://www.orkut.com.br/Main#CommMsgs?cmm=22310526
Imagem: google.com
Nenhum comentário:
Postar um comentário