terça-feira, 8 de fevereiro de 2011

Teoria da mente

Todos nós fazemos constantemente inferências sobre o que se passa na cabeça das outras pessoas, ainda que normalmente façamos isso de forma inconsciente. Os cientistas cognitivos chamam essa habilidade de "teoria da mente" e, até recentemente, pouco se sabia sobre os mecanismos cerebrais por trás dessa capacidade.

Um novo estudo, feito por cientistas do MIT (EUA), sugere que o processo não envolve realmente imaginar-se na posição da outra pessoa, como alguns cientistas haviam teorizado.

Modelo abstrato da mente

Em vez disso, nós usamos um modelo abstrato de como acreditamos que a mente do outro funciona, modelo que é aplicado à situação que o outro está passando para predizer como ele está se sentindo, mesmo se a pessoa que julga nunca tenha passado ela mesma por aquela experiência.

O estudo também fornece evidências de que a teoria da mente está sedimentada em regiões específicas do cérebro, mesmo em pessoas congenitamente cegas, ou seja, pessoas que nunca receberam qualquer input visual, uma fonte importante de informações sobre o estado mental dos outros.

Teorias sobre como compreendemos o outro

Embora a teoria da mente seja um conceito antigo, estudado por filósofos como Descartes, pouco se sabe sobre como ela funciona. Predominam duas teorias. A primeira, conhecida como simulação, sugere que, quando as pessoas tentam descobrir as reações mentais de outra pessoa a um evento, elas se imaginam na mesma situação.

A segunda teoria propõe que o cérebro humano usa um modelo abstrato de como a mente funciona, análogo ao modelo que temos sobre o funcionamento do mundo físico. Este modelo permite que as pessoas entendam a mente dos outros sem ter passado pelas mesmas experiências - da mesma forma que sabemos que um ovo irá se quebrar se cair do décimo andar, mesmo se nunca tivermos feito isso.

Estudando pessoas cegas desde o nascimento, Marina Bedny e Rebecca Saxe avaliaram a hipótese da simulação - se ela fosse correta, as pessoas cegas não poderiam julgar as experiências visuais de outros porque elas próprias nunca tiveram qualquer experiência do mesmo tipo, não sendo capazes de recriar a experiência de ver algo.

Entretanto, as pesquisadoras descobriram que os cegos de nascença se saíram tão bem quanto as pessoas com visão normal na previsão dos sentimentos de outras pessoas em fenômenos envolvendo a visualização, usando as mesmas regiões do cérebro, sugerindo que a simulação não é necessária e que o cérebro está utilizando um modelo abstrato do estado mental dos outros.

Programação genética ou experiência?

A pesquisa também elucidou uma questão relacionada: Em que medida a localização das funções cerebrais de alta ordem, como a teoria da mente, depende de uma programação genética ou em que medida ela é determinada pela experiência sensorial?

Vários estudos têm mostrado que, sob certas circunstâncias, o cérebro é capaz de se reorganizar em resposta a estímulos sensoriais, ou na falta deles. Por exemplo, em pessoas cegas de nascença, o córtex que normalmente processa as informações visuais básicas podem passar a ser utilizadas para o processamento da linguagem.

Como as pessoas com visão normal frequentemente obtêm informações sobre as emoções dos outros por meio da visão - vendo as expressões faciais, por exemplo - algumas teorias sugerem que as pessoas cegas usariam regiões diferentes do cérebro ao executar tarefas ligadas à teoria da mente.

Entretanto, os exames de ressonância magnética funcional feitos pela equipe não revelaram nenhuma diferença entre as regiões cerebrais ativadas nas pessoas com visão e sem visão quando elas tentam predizer o estado mental de outros.

Isto fornece evidências de que a organização das funções cognitivas de alto nível, como a teoria da mente, não é determinada pela experiência sensorial. Mas a questão continua em aberto, podendo a organização do cérebro nestas regiões ser pré-programada geneticamente ou depender de outros aspectos da experiência, como a linguagem, por exemplo.


Créditos: O trabalho foi publicado no exemplar desta semana do Proceedings of the National Academy of Sciences

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