terça-feira, 8 de março de 2011

● A moral e a culpa . . .

«A vida é uma dádiva que, se não for devidamente aproveitada, se perde.

Viver é fazer, é respirar, andar, encontrar, desencontrar, beijar, amar. E a melhor alternativa é viver o presente, celebrando cada momento vivido.

Algumas pessoas perdem o presente fantasiando o passado e o futuro. Isso não é viver: é sofrer.

E um dos principais mecanismos que nos fazem perder a beleza e a alegria do momento presente é a CULPA.

Nos primeiros séculos, a Igreja era o Templo de alegria. Privilegiava a ressurreição, como centro do Cristianismo. O importante era sacudir a poeira e dar a volta por cima.

Posteriormente a ênfase se voltou para a culpa, como forma de controle. Passou-se então do convite à celebração da vida à imposição da moralidade, ao dilema entre o certo e o errado.

A culpa é um dos problemas psicológicos mais difíceis de se tratar, pois é internalizada em nossa cultura como uma virtude. Algumas pessoas estão sempre em débito com os outros e consigo mesmas. Tornam-se tristes pelos erros cometidos e muitas vezes entram em depressão por algo que fizeram ou deixaram de fazer. É assim que se perde a inteireza da vida.

É triste ver que a maioria das pessoas não está na vida para desabrochar o seu potencial, mas para cumprir uma imagem idealizada de como "deveriam ser". Não podem transgredir as regras impostas pela sociedade e, quando isso acontece, são atormentadas pela culpa.

O problema é que grande parte das pessoas ignora que o erro faz parte da vida, já que somos incompletos. Sempre erramos e sempre erraremos. Muitos dos avanços do mundo e da evolução da humanidade se deram a partir do erro. Algumas vezes é preciso tropeçar para aprender o caminho certo, pois a nossa transformação vem da consciência do erro.

Infelizmente, fomos treinados para viver moralmente, julgando o que é certo ou errado, e não para viver com qualidade e alegria. As pessoas sentem culpa por errar. Ao sentir culpa por nossos desacertos, manifestamos um preconceito em relação ao erro. Na verdade, sentimos culpa pelo fato de não sermos perfeitos. E aí reside o nosso orgulho: a não aceitação de que não somos Deus.

É o orgulho que nos impede de ver os ensinamentos do erro. O erro é nosso mestre, é o que nos faz crescer. Se aprendemos com o erro, nos abrimos para novas oportunidades na vida. Já a culpa paralisa, amordaça. Se julgamos o tempo todo, a vida é desprezada em sua totalidade. Não há espaço para crescimento.

Sempre que saímos de um padrão estabelecido, por nossos pais, por nossa cultura, nos sentimos culpados. A culpa é uma dependência infantil. É a voz de alguém dentro de nós que nos acusa quando saímos fora de algum padrão. Embora não saibamos esta voz foi internalizada quando criança. É a voz do Pai, da Mãe, da Professora, do Padre, etc. E quem sente muita culpa gosta de culpar as outras pessoas. E as relações se deterioram através da tentativa de produzir culpa no outro. É por isso que as pessoas se justificam tanto.

A principal culpa de nossa cultura
é em relação aos nossos pais e à sexualidade. Quanto mais reprimidos na sexualidade, menos nos permitimos ter alegria, leveza e prazer sexual, que é a energia vital, a beleza do encontro e do amor.

Se aprendemos a nos perdoar
, o que é mais difícil , e não apenas perdoamos o outro, que é mais fácil e até nos envaidece, aí, sim, podemos nos livrar da culpa. Essa é a verdadeira virtude da humildade. O perdão é a aceitação de que somos humanos, enquanto a culpa é a ferramenta pela qual o ser humano manipula e controla.

Abrir mão da culpa é abrir mão do controle que queremos exercer sobre o outro. É abrir espaço para o amor, pois a culpa é a inimiga dos relacionamentos. É a forma de ficar preso ao passado. É viver de costas para vida. As pessoas deprimidas são cheias de culpa. Estão na vida para não errar e não para viver.

Pai perfeito, marido perfeito, esposa perfeita, filho perfeito, profissional perfeito - é muita coisa para uma pessoa só. Revisitar o passado é uma função de mestre: é como abrir um livro para aprender e não para chorar. O passado é para ser resolvido e só podemos crescer quando nos perdoamos e nos tornamos livres para começar de novo.

Para isso, temos dois caminhos a seguir: ficarmos culpados, lidando com as nossas mortes. Ou, humanos e imperfeitos, com as nossas vidas. Se optarmos pela vida poderemos então dizer, a partir de agora, "que hoje é o primeiro dia do resto de nossas vidas".»




Palavras de: Antônio Roberto Soares
Imagem: google.com

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