quinta-feira, 2 de julho de 2015

Dogmatismo

Origem

Dogma é um termo de origem grega, com a mesma pronúncia utilizada no idioma português, e tem o significado de “aquilo que aparenta”, “opinião”, “crença”. É derivado do verbo grego “dokeo”, que significa pensar, imaginar ou supor.

O que é dogma?

O dogma é uma doutrina ou crença que significa literalmente o que se pensa é verdade. Trata-se de verdades impostas em uma religião ou uma ideologia, sendo considerada ponto fundamental e indiscutível de uma crença.

Na civilização grega, o dogma era ligado a um pensamento firme ou uma doutrina, mas passou a ser essencialmente um fundamento religioso, considerados como verdades absolutas, que devem ser aceitas através da autoridade e não são passíveis de questionamentos.

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Todo sistema religioso tem seus pontos fundamentais e indiscutíveis aos quais chamamos de dogmas. São “verdades” aceitas sem discussão, apenas pela fé. No sistema cristão, em especial, os pontos fundamentais que sustentam essa crença são defendidos por seus teólogos com afirmações de que os mesmos só podem ser entendidos por aqueles iluminados pelo espírito santo, sendo isto também um outro dogma cristão.

Isto é útil para afastar os questionamentos daqueles que não confirmam com essas idéias, pois estes “infelizes não receberam as graças de Deus” ou “não conheceram Jesus”. É bem sofisticado e engenhoso: dogmas para defender dogmas! Se aquele que não acredita no dogma não pode questioná-lo, quem o fará?

Mas quando sabemos quando um dogma é verdadeiro? E quando o dogma é verdadeiro, necessitamos dele? Acaso a verdade precisa ser dogmatizada? E se uma verdade estiver dogmatizada, isso é bom? E, finalmente, será que precisamos mesmo de um dogma?
Verdadeiro e falso são valores lógicos atribuídos a uma proposição. Uma afirmação é aceita como verdadeira quando está em conformidade com o real. E, para emitirmos um juízo correto sobre uma determinada proposição, precisamos estudá-la com isenção. O pensamento cético utiliza certas ferramentas para compreender um argumento e verificar se é fraudulento ou falacioso. Certamente, possuir uma resposta pronta para esse juízo, e ficar apenas buscando confirmação para ela, denota total falta de isenção que é algo desejável em qualquer avaliação justa e honesta.

A verdade não pode ser absoluta, porque ela é conceito que emitimos sobre uma proposição. Quando as pessoas afirmam que existe uma verdade absoluta, estão se referindo a uma proposição ser sempre verdadeira, ou seja, permanecer imutável independente de contextos. Uma proposição não é necessariamente eternamente verdadeira. Ela pode ser verdadeira diante de determinadas circunstâncias, e num dado momento pode não ser mais.

Novos dados acrescentados à avaliação da proposição podem alterar o julgamento que fazemos dela.



Podemos dizer, humildemente, que uma afirmação é verdadeira por enquanto. Não sabemos se novos dados podem surgir e desmontar essa verdade. Ou seja, parafraseando o poeta, que a verdade seja eterna enquanto dure. E nesse tempo, nos é útil. Mas não devemos nos amarrar apaixonadamente, pois ela pode nos decepcionar a qualquer momento. Se uma verdade afunda, e estamos algemados a ela, afundamos juntos.

Quando uma pessoa aceita um dogma, não pode testar se ele é de fato verdadeiro. Isso é se algemar a uma verdade.

Como nasce um dogma? Alguém julga que uma determinada proposição é verdadeira, e em seguida, julgando-a muito importante, a cristaliza, tornando-a imutável, porque também partem do princípio que essa verdade é absoluta, ou seja, nunca vai mudar.

Será que quem engessou o julgamento sobre essa proposição como sendo uma eterna verdade, estava de posse de todos os dados? Teria ele intenções justas, honestas ou será que interesses espúrios o levaram a formular esses dogmas? E mesmo tendo nobres intenções, será que novas descobertas não invalidariam esse antigo julgamento?

Não existe também “A Verdade”, pois esta seria necessariamente uma verdade absoluta, e portanto eterna, ou enquanto existir o Universo, já que nada existe fora dele – e mesmo que existisse, não nos seria de muita utilidade, pois estando completamente fora do Universo, não teria influência sobre nada dentro dele, sendo completamente fora de nosso alcance de compreensão, por definição. E não poderíamos atribuir valores sobre essa entidade, nem seria de importância ou conhecimento nosso o valor que ela atribuísse. Assim sendo, A Verdade presume um conceito fornecido pelo Universo, a única entidade que conhecemos que pode durar tanto quanto for necessário para existência dessa Verdade. E o universo não é um ser consciente que possa atribuir valores de verdadeiro ou falso para as proposições.

Para julgar se um dogma é verdadeiro, precisa-se antes de tudo não ser partidário dele. Uma pessoa que esteja presa ao dogma jamais aceitará contestá-lo, por definição.



Se um dogma é verdadeiro, mesmo assim não precisamos dele, porque podemos concluir que se trata de uma verdade fazendo os mesmos experimentos que aquele que o formulou. E se o experimento não puder, por acaso, ser refeito, então essa verdade não é de grande valia, pois não possui um caráter verídico.

Podemos usar um exemplo para verificar se realmente precisamos dogmatizar uma verdade. Um corpo, abandonado no alto, tende a cair. Sempre observamos isso. Tem sido verdade por muito tempo. Tudo nos leva a crer que seja sempre verdade, as pessoas têm então compulsão de afirmar que se trata de uma verdade absoluta. O que aconteceria se tivéssemos dogmatizado essa proposição?

Teria Newton formulado as suas leis acerca da gravidade se tivesse aceito isso como dogma? Teria Einstein formulado a Teoria da Relatividade? Lembre-se, dogma é uma verdade aceita sem contestação, não se deve questionar, não se deve buscar o porquê. Sem as Leis de Newton, sem as teorias de Einstein, não teríamos muitas das evoluções tecnológicas, desde as modernas pontes, aviões e outros prodígios da engenharia até as conquistas espaciais. Toda a nossa compreensão do Universo estaria comprometida.

Nada de Big Bang, nada de Buracos Negros, não compreenderíamos como as estrelas evoluem até seu colapso, não saberíamos explicar porque os planetas giram ao redor do Sol, nem porque não caímos da Terra, sendo ela redonda. Um mundo sem comunicação via satélite, sem física quântica, sem mais o que explorar.

E se você estiver tentado a pensar: “bem, mais se Newton não formulasse sua teoria, tudo bem: outro o faria”, devo lembrar-lhe que dogmas são inquestionáveis. Você não precisa explicar porque as coisas caem. É assim, e pronto. “Mas e se alguém, apesar do dogma, tentasse questionar e formulasse a tal teoria?”

Então eu lhe respondo: essa pessoa teria que ser livre, não estar presa ao dogma, por definição. Quem crê dispensa a necessidade de pensar mais sobre o assunto.

É ruim dogmatizar mesmo uma verdade. Se é ruim dogmatizar uma verdade, o que dizer de uma mentira? Se um dogma é religioso, e alguém contesta esse dogma, então essa pessoa é acusada de heresia. Dependendo da época e do lugar que você viva, você pode ser condenado e levado à fogueira por isso. Concluímos que dogmatizar é sempre errado para quaisquer proposições, sejam elas verdadeiras ou falsas.

Sendo assim, não precisamos de dogmas. E esta proposição, por sua vez, não é em si um dogma, como querem alguns. É apenas uma conclusão lógica, que pode ser contestada, testada, e refutada. Se provar-se falsa, não estarei algemado a ela. Mas enquanto se provar verdadeira, posso usá-la como ferramenta para outras conclusões, como por exemplo: “não precisamos de dogmas, logo as verdades fundamentais das religiões são, sim, questionáveis, e todos têm o direito de fazê-lo”.

Palavras de: Francisco Saiz - (Instituto de Pesquisas Energéticas Nucleares da USP - Universidade de São Paulo) Geocities




Imagens: google.com


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