Certa vez, um homem me abordou pedindo dinheiro devido às suas deficiências e disse que estava com fome.
Ao invés de lhe dar o dinheiro, sentei-me com ele num bar que servia refeições.
Perguntei o que ele gostava de comer e ele me respondeu: "O que a senhora quiser me dar".
Insisti que ele escolhesse o seu almoço e então, ele pegou o cardápio e viu os preços de cada prato.
Ele me disse: "Em outra época, tudo era barato mas agora, tudo aqui é muito caro. Escolha a senhora. Não me atrevo."
Insisti mais uma vez que ele escolhesse e envergonhado, pediu o trivial arroz, feijão, bife, batata frita e salada e eu, o acompanhei pedindo o mesmo. Dividimos, além da mesa, uma boa conversa e uma tubaína.
Enquanto esperávamos a refeição, intrigada com o seu linguajar culto, perguntei a ele, que estava cabisbaixo, com vergonha de seu estado de asseio, onde ele morava e porque estava nas ruas.
Ele começou: " Eu trabalhava numa corretora de seguros, estudei direito e me formei. Tinha uma casa linda e com mesa farta. Minha família vivia muito bem. Consegui com esforço montar minha própria corretora. Dei emprego para dez pessoas. Tudo corria muito bem até que um dia descobri que um dos meus funcionários me roubava.
Fui vítima de vários delitos e, quando não tinha mais para onde ir pela falta de dinheiro, consegui um empréstimo no banco que, em quatro meses,com as cobranças devido a inadinplência, desnorteado e voltando para casa absorto em meus pensamentos sobre o problema, sofri um acidente que me custou um braço e um retardo.
Não tinha condições para bancar o tratamento e fui deixado nos corredores de um hospital.
Minha família não aguentou a pressão. Fui abandonado pela minha esposa que já estava em relacionamento com outro homem,a corretora abriu falência e enfim, meu mundo ruiu.
O Estado custeou meu tratamento, mas, fiquei assim...
Sem onde morar, sem onde trabalhar, a depressão tomou conta de mim. Fui para o Pinel. Fui para o fundo do poço. Quando sai do sanatório morei em um abrigo onde estou até hoje".
Perguntei: "Por que você não foi à luta já que tem profissão e formação?"
Ele respondeu: "Quem quer um aleijado retardado trabalhando em seu escritório? Se eu não tivesse descoberto o roubo daquele funcionário nunca estaria neste estado. Ele é o culpado por eu estar assim!"
Nossos pratos chegaram.
Desfrutamos da refeição e tive vontade de falar para ele sobre o vitimismo que estava em suas falas, mas, fiquei receosa.
Ao final, nos despedimos e fiquei meditando, parada no ponto de ônibus a respeito da lição que tinha aprendido naquele momento.
O homem culpava ao outro por suas limitações, mas na verdade, ele não quis virar em 360° a sua história.
Tudo bem que fora um golpe emocional gigante, pois, ficou com sequelas profundas, mas, depois do ocorrido, por que ele não se levantou e andou?
Bem, os questionamentos rondaram minha cabeça por longo espaço de tempo e conclui que:
As limitações existem sim para que possamos transpassa-las. Tudo a seu devido tempo e com seu devido peso.
Cada obstáculo colocado perante nossa existência vem para nos mostrar do que somos feitos e o que viemos fazer neste mundo.
Incorporar o papel de vítima só nos trará aborrecimentos e piedade de nós mesmos, pois, o mundo e as pessoas que nele estão não enxergarão esse papel e muito menos terão o infame sentimento de pena.
É bom que reflitamos sobre o que somos, o que queremos ser e o que nos fazemos ser.
Devemos nos lembrar que culpamos os outros por aquilo que não temos coragem de conquistar.
As muletas, somos nós mesmos que as colocamos.
Fonte: recebido por email por: Bia Fernandes
Imagens: google. com
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