terça-feira, 19 de abril de 2011

● O que está por trás da dificuldade de dizer não

Esse é um tema que muito se fala. Se diz que é importante saber dizer “não”, que a pessoa precisa aprender a colocar limites e a se impor. Mas poucos falam com profundidade sobre esse tema. Por que é tão difícil dizer “não”? Se fosse algo apenas racional seria muito fácil. Era só decidir; dizer “não”, e pronto, estaria tudo resolvido.

Mas não é bem assim... tem vários fatores emocionais, conscientes e inconscientes por trás desse tema. Vamos explorar um pouco as razoes nesse artigo.

Sentimentos de culpa e pena muitas vezes estão por trás dessa dificuldade. Pontos negativos na autoestima estão sempre ligados a esse tema. Dizer “não” pode provocar sentimentos muito desagradáveis dependendo de como é a nossa autoestima.

Atendendo a uma cliente com essa dificuldade observem o que surgiu. O filho estava de castigo por que tirou uma nota baixa. Havia sido combinado que ele não teria permissão de sair no final de semana pra divertir. Mas ia ter uma festa muito legal que ele estava com muita vontade de ir. Vendo o “sofrimento” e ansiedade do filho, a minha cliente sentiu muito pena e quis voltar atrás. O marido disse pra ela que, desse jeito, ninguém nunca ia respeitá-la, pois ela não sabia segurar o que havia sido combinado, não sabia se impor. Ela ficou chateada, até mesmo com raiva e falou o seguinte na sessão: “se para as pessoas me respeitarem eu tiver que ser uma pessoa cruel, eu realmente nunca vou conseguir que me respeitem”. Então eu perguntei: “Dizer não é ser cruel?”. E ela afirmou que sim.

Ela contou que durante a infância havia recebido muitos ‘nãos’. Os “nãos” que ela recebia negavam necessidades básicas físicas e emocionais: não pode brincar, não tem carinho, não tem atenção, não pode ser criança, não pode ter isso, nem pode ter aquilo, não pode ter brinquedo, não pode ter tal roupa e etc. Pra ela, dizer “não” estava associado a fazer o outro sofrer, a ser cruel. O ato de dizer “não” automaticamente a conectava de forma inconsciente a todo o sofrimento que ela passou. O resultado disso é que se ela dissesse “não”, se sentia uma pessoa má, cruel, culpada e injusta. Para não sentir tudo isso, adotou o comportamento extremo oposto e desenvolveu um medo, uma dificuldade terrível de negar qualquer coisa para não fazer o outro sofrer o que ela sofreu.

A necessidade de agradar pra ser aceita também pode fazer parte desse pacote, e no caso dessa cliente também estava presente. Como era tratada de uma forma muito dura pela mãe, passou a vida toda fazendo tudo que ela queria para tentar agradar, porém nunca conseguia os elogios, reconhecimento e o carinho que precisava.

A criança que não é reconhecida, elogiada, que não se sente amada, fica numa busca incessante por reconhecimento. Se forma então um círculo vicioso: faz tudo pra agradar em busca de obter o reconhecimento, não o obtém , se sente rejeitada, o que gera nova necessidade de agradar para ganhar atenção e carinho... E isso provoca sérios problemas de autoestima.

De forma inconsciente esse comportamento vai sendo sendimentado e a pessoa o carrega pela vida adulta a fora. Assim, ela desenvolveu uma necessidade incessante de querer agradar a todos o tempo inteiro para ser aceita e amada. O ato de dizer “não” certamente desagrada ao outro.

E qual a conseqüência de não conseguir dizer “não”, será que tem alguma? Sim, tem várias. Sobrecarga física e emocional ao fazer tudo pelos outros, ansiedade, fuga de situações, raiva de si mesmo, raiva dos outros, problemas sérios nos relacionamento. Dizer “não” está ligado a impor limites, respeito, e quando isso não é imposto as pessoas passam por cima mesmo (mas só porque você permite): marido, filhos, amigos, empregados, parentes e até desconhecidos.

Conheço uma pessoa que vive reclamando do quanto as pessoas são “cara de pau” com ela, lhe pedem todo tipo de favor. Ela fica com muita raiva. Só que ninguém coloca uma arma em sua cabeça exigindo nada. O problema na verdade é que ela não sabe negar nada. Faz tudo que lhe pedem, e só diz não quando já está no limite, com muita raiva, o que acaba prejudicando seriamente seus relacionamentos. As pessoas ao redor não tem que mudar e aprender a ter “semancol”, ela que tem que aprender a impor limites.

Você pode adoecer e se manter doente por ter dificuldade de dizer não. Uma cliente me falou que a mãe teve um AVC e que não tem muita vontade de melhorar do quadro (dificuldade de se movimentar, partes do corpo paralisadas), está bem conformada, pois assim as pessoas vendo o seu estado a poupam. Ou seja, é mais fácil ficar doente pra que as pessoas tenham “pena” dela e não passem por cima. Seria mais fácil melhorar da doença e aprender a dizer pra se defender, correto? Hum... normalmente não é fácil, não é racional. A pessoa se mantém doente e nem tem muita consciência do porque, fica se sabotando o tempo todo sem se dar conta.





Fonte: http://www.eftbr.com.br/
Imagens: google.com

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