Desde o começo, desde a infância, uma coisa quase sempre caminha errado. E essa coisa é que, sempre que uma criança adoece, ela recebe mais atenção. Isso cria uma associação indevida: a mãe a ama mais, o pai cuida mais dela; toda a família a coloca no centro, ela se torna a pessoa mais importante. Ninguém se importa com uma criança de outra forma - se ela está bem e satisfeita, é como se ela não existisse.
Quando ela adoece, ela fica ditatorial, ela dita seus termos. Uma vez que esse truque é aprendido - que sempre que você está doente você se torna de algum modo especial - então, todos têm de prestar atenção, porque, se não prestarem atenção, você pode fazê-los sentirem-se culpados. E ninguém pode dizer nada a você, porque ninguém pode dizer que você é responsável pela sua doença.
Se a criança estiver fazendo algo errado, você pode dizer: "Você é responsável!". Mas se ela está doente, você não pode dizer nada, porque a doença não é vontade dela - o que ela pode fazer? Mas você não sabe dos fatos: noventa e nove por cento das doenças são autocriadas, geradas por você mesmo para atrair atenção, afeto, importância.
E uma criança aprende o truque muito facilmente, porque o problema básico para a criança é que ela é indefesa. O problema básico que ela sente continuamente é que ela não tem poder e todos são poderosos. Mas, quando está doente, ela fica poderosa e todos ficam sem poder. Ela passa a compreender isso.
Uma criança tem muita sensibilidade para saber das coisas. Ela começa a ver que nem o pai é nada, nem a mãe é nada - ninguém é nada diante dela quando ela está doente.
Então, a doença se torna algo muito significativo, um investimento. Quando quer que ela se sinta negligenciada na vida, quanto quer que ela sinta "estou indefesa", ela pega uma doença, ela a cria. E este é o problema, um profundo problema. Porque o que se pode fazer? Quando uma criança está doente, todos têm de prestar atenção.
Mas agora os psicólogos sugerem que, sempre que uma criança estiver doente, cuide dela, mas não lhe dê muita atenção. Ela deve ser cuidada com medicamentos, mas não psicologicamente. Não crie nenhuma associação na mente dela de que a doença vale a pena, caso contrário, por toda a sua vida, sempre que ela sentir que algo vai errado, ela ficará doente.
Então, a mãe não pode dizer nada, então, ninguém pode reclamar com ela porque ela está doente. E todos têm pena dela e lhe dão afeto.
Noventa por cento do sofrimento existe porque vocês associaram algo, que parece bom, com o sofrimento. Abandone essa associação. Ninguém mais pode fazer isso por você. Abandone essa associação completamente, corte essa associação completamente. O sofrimento está simplesmente desperdiçando sua energia. Não fique envolvido nele, não pense que ele vale a pena. Há somente um único meio em que o sofrimento vale a pena, e esse é com consciência. Torne-se consciente.
Lembre-se de como abandonar essa associação: primeiro, nunca fale sobre seu sofrimento. Sofra, mas não fale sobre ele. Por que você fala sobre ele? Por que as pessoas continuam falando e incomodando os outros com o sofrimento delas? Quem está interessado? Para não ofender, só por isso, é que as pessoas têm de tolerar quando você começa a falar sobre doenças e angústia. Elas começam de algum modo a correr de você. Ninguém quer ouvir, porque todo mundo já tem sofrimento suficiente por si mesmo. Quem se importa sobre o seu sofrimento? Não fale sobre ele, porque falar cria associações.
Não reclame, porque, então, você está pedindo afeto, pena, compaixão, amor. Não peça, não venda seu sofrimento - recolha seu investimento. Sofra reservadamente, não torne a coisa pública.
Sofra reservadamente, sofra tão reservadamente que ninguém jamais fique sabendo do seu sofrimento. E então medite sobre ele: não o jogue para fora, acumule-o dentro e, depois, feche seus olhos e medite sobre ele.
Osho
Fonte: Read more: http://passarinhosnotelhado.blogspot.com
●
Nenhum comentário:
Postar um comentário