As dificuldades no seu relacionamento são uma maldição ou bênção? Qual é o propósito do seu relacionamento?
Para algumas pessoas, uma relação de parceria é compartilhar os encargos financeiros, para alguns é criar os filhos, para alguns é para agradar aos seus pais, para alguns é uma fonte de sexo seguro. E, claro, há tantos propósitos quantos relacionamentos existirem. Mas algumas pessoas vêem a relação como a cereja em cima do bolo, têm como objetivo que a sua relação ajude o casal a expandir-se em sabedoria e poder pessoal, a construir um terceira entidade: o seu relacionamento. Para essas almas corajosas, o propósito da relação é potenciarem-se, é puxarem-se para cima, tanto quanto possível e construírem algo que lhes seja comum. O objetivo principal é construir um relacionamento extraordinário.
Existem no entanto, alguns outros casais que focam as suas energias na competitividade, em ficarem melhor e terem razão em relação ao outro provando que o outro está errado, essas pessoas restringem o seu progresso através da irritação constate e da excessiva argumentação, constroem uma estrutura mental esculpida no orgulho pessoal e não na construção e desenvolvimento.
IMPACIÊNCIA, UMA ARMA PRONTA A DISPARAR
Vamos ser peremptórios e levar em consideração que na grande maioria das vezes a impaciência transforma-se em raiva. Expressar a energia da raiva pode ser viciante. Porquê? Bem, porque dá um senso de utilidade, de capacidade e ação, há um imediato alívio da angústia subjacente à raiva, embora a curto prazo. Esta é a mesma razão porque bebemos quando temos medo, ou comemos quando nos sentimos sós, mas estas estratégias têm o reverso da medalha, só funcionam por poucos minutos. É o ganho a curto prazo, que se transforma no principio da dor a longo prazo.
Outra forte razão que solidifica a noção da que a raiva pode ser viciante, é que quanto mais vezes nos deixamos absorver pelo momento quente da impaciência, o “hábito” torna-se mais enraizado. A tolerância para o sentimento de raiva aumenta. E, quando disparada, podemos inconscientemente, automaticamente, aumentar a irritabilidade com as pessoas que interagimos ou mesmo os nossos ente queridos. A pessoa num estado de raiva, entra normalmente em negação sobre os efeitos da raiva sobre os outros, bem como nela mesmo. Esta tolerância crescente para a expressão da raiva explica o facto de que a violência doméstica pode começar com observações de desprezo, e ao longo do tempo aumentar para mais, podendo emergir para perigosos ataques físicos.
Para aprofundar este assunto, pondere ler o artigo: Micro-compromissos, uma via para o entendimento nos relacionamentos.
A VULNERABILIDADE DA RAIVA
Raramente temos explosões de raiva de forma espontânea, ou seja, vindas do nada. No que toca aos relacionamentos, a raiva pode ser considerada como uma construção a longo prazo. Pouco a pouco vão crescendo algumas ervas daninhas que constroem o substrato da raiva, alimentam-na, fazem-na crescer ao ponto em que se torna autónoma e automática.
As nossas irritações diárias, julgamentos e erros que experimentamos nos relacionamentos podem ser subtis. Podemos nem mesmo reconhecer que estamos sendo impacientes. Mas essas irritações menores podem ser muito destrutivas para a manutenção do “porto seguro” que todos nós queremos nos nossos relacionamentos mais íntimos.
Quando tudo está indo às mil maravilhas nas nossas relações, não há problema. Mas, nem sempre é assim, vem o dia em que por exemplo alguém nos faz esperar quando estamos prontos para sair, ou nos dá “aquele olhar frio”, ou faz uma observação sarcástica, ou fala sobre nós, ou critica o nosso pais, ou chama-nos estúpidos e nós ficamos fora de nós, pensamos: “Ninguém me vai tratar assim”.
O ciclo passa a ser contínuo e vai crescendo, a paz primeiro, e depois alguém faz ou não faz alguma coisa, o outro sente-se insultado, julgado, ou com medo. Em seguida, retraimo-nos ou atacamos. E, depois, à distância a pressão interna vai aumentando. Chega a um ponto em que inevitavelmente o vulcão emocional entra em erupção, deixando ainda mais dor no seu rescaldo. Pode voltar a existir um breve período de paz mas, em seguida, o ciclo começa novamente. E isto torna-se cansativo.
Bem, se você quiser escapar dos ciclos intermináveis de farpas e bálsamos, e ao mesmo tempo crescer e procurar entendimento no relacionamento, há uma saída. Tem de trabalhar arduamente na virtude da paciência à moda antiga.
QUANDO PRECISAMOS DE PACIÊNCIA
A necessidade de termos paciência ocorre quando somos desafiados numa das duas maneiras:
■ Obtemos algo que não queremos/gostamos
■ Não obtemos algo que queremos/gostamos.
Nestes casos, temos a sensação de que as coisas não estão indo no caminho certo. É quando os nossos egos chocam. Com impaciência, emerge a irritação com algumas coisas que parecem atrasar-nos, ficamos com a percepção de que as coisas estão movendo-se a um ritmo mais lento do que queremos.
Estes desafios fazem sentir-nos mais vulneráveis, possivelmente com medo, e o mais provável é que passemos a ter respostas instintivas para nos protegermos, aos nossos valores e a tudo o que é “nosso”. A pressão interna e ansiedade vão subindo à medida que as frustrações se vão somando. A ausência de paciência empurra-nos de forma urgente para continuar o nosso caminho à nossa maneira. Sempre que a tensão interna aumenta, sempre que a frustração se faz sentir e a luta de egos entra em ação, acionar a virtude da paciência é imperativo.
O QUE É A PACIÊNCIA?
De acordo com a Wikipédia, Paciência é uma virtude de manter um controle emocional equilibrado, sem perder a calma, ao longo do tempo. Consiste basicamente de tolerância a erros ou fatos indesejados. É a capacidade de suportar incómodos e dificuldades de toda ordem, de qualquer hora ou em qualquer lugar. É a capacidade de persistir em uma atividade difícil, tendo ação tranquila e acreditando que você irá conseguir o que quer, de ser perseverante, de esperar o momento certo para certas atitudes, de aguardar em paz a compreensão que ainda não se tenha obtido, capacidade de ouvir alguém, com calma, com atenção, sem ter pressa, capacidade de se libertar da ansiedade. A tolerância e a paciência são fontes de apoio seguro nos quais podemos confiar. Ser paciente é ser educado, ser humanizado e saber agir com calma e com tolerância.
VIRAR-SE PARA NÓS MESMOS É DO NOSSO INTERESSE
A paciência é o processo de nos voltarmos para dentro de nós mesmos e entrar em contato directo com a pressão interna, e igualmente com a calma e tranquilidade. É tomar consciência dos sentimentos vulneráveis (pensamentos e sentimentos negativos) e inquietação, e em consciência não inflamar os acontecimentos ou situações que fizerem disparar a defesa do ego. Devemos fazer um esforço para não escalar e exacerbar os pensamentos e sentimentos negativos avaliando o quão “maus” são. Tente apenas presenciar a sensação de desconforto, sem que necessariamente tenha de agir nesse estado. É preciso coragem. É preciso treinamento mental para enfraquecer os hábitos antigos que nos conduzem para o insulto, ou retirada.
O que é então a paciência? É entrar em contato com o impulso emocional para fazer alguma coisa em reação ao que nos provocou e conseguir travá-lo. O impulso emocional pode ser para criticar, para nos defendermos, para comer em excesso, para usar uma substância aditiva.
Não é um traço de caráter fácil de desenvolver. Então, porque devemos desenvolver a paciência?
SENTIR RAIVA É UMA CAUSA DE DOR
Uma das razões para trabalhar na impaciência da raiva é que o hábito da raiva torna-se mais e mais fortes ao longo do tempo. Pense na forma como um alcoólico desenvolve uma tolerância ao álcool. O mesmo acontece com a raiva, quanto mais nos deixamos experimentar e viver essa sensação, mais enraizado fica esse disparo emocional tremendamente forte. E à medida que o tempo vai passando a irritabilidade vai aumentando. A raiva alimenta o mau-humor, a intolerância e tolda o raciocínio e a clareza de pensamento.
A IRRITABILIDADE SEPARA-NOS DOS OUTROS E BLOQUEIA O ACESSO À SABEDORIA INTERIOR
Quando accionamos o nosso ciclo aparentemente interminável de “velhas histórias” perdemos a presença de espírito connosco e com os outros.
Exemplo: “Eu não posso acreditar que ela fez isso de novo! Eu disse-lhe que aquilo me incomodava. Como é que ela pode estar no mundo da representação desta forma? Isto nunca irá dar certo”.
Num estado de irritabilidade accionado por “velhos” problemas, accionamos igualmente os mesmos padrões de pensamento e comportamento. Não conseguimos trazer luz aos assuntos e fazemos disparar as velhas lenga-lengas do costume. Não damos a nós mesmos oportunidade de aceder a formas mais assertivas e sábias de raciocínio e resolução de problemas.
QUANDO CONSEGUIMOS CONFIAR EM NÓS MESMOS PARA SERMOS PACIENTES, ACIONAMOS O AUTO-RESPEITO E FORÇA INTERIOR
Quando acedemos ao momento que fica entre os estímulo e a resposta, abrimos uma janela à consciência e sabedoria interna. Percebemos que podemos não ser vítimas de nós mesmos, que não precisamos de “morder o anzol”. Percebemos que temos oportunidade de fugir aos “velhos” hábitos que tantos problemas nos têm dado. No espaço entre o estímulo e a resposta fica alojada a paciência. Quando ficamos nesse intervalo de bem-aventurança, emerge em nós uma força interior tremenda que nos permite ter confiança em nós mesmos no sentido de permanecermos calmos, tranquilos e conseguirmos encontrar uma resposta assertiva para o problema entre mãos.
PERCEBERMOS O QUE QUEREMOS SER
Para refletirmos é necessário acalmarmos a nossa mente. Para fazermos uma pausa introspectiva na nossa vida é necessário cultivar a virtude da paciência. A paciência permite-nos entrar num estado de reflexão interna, permite a ponderação e a análise de várias opções e possibilidades. Permite-nos aceder à razão e assim em consciência conseguimos perceber como queremos ser e agir em determinadas situações.
Dica: Nos relacionamentos, mas igualmente na vida em geral a paciência é uma virtude que alimenta as decisões ponderadas. A paciência deixa-nos aceder ao momento presente e atualizarmos as respostas em função dos acontecimentos do momento. A paciência ou ausência dela é um factor chave na transformação dos relacionamentos em maldição ou bênção.
Por: Miguel Lucas
Fonte: www.escolapsicologia.com/
Imagens: google.com
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