Perguntaram a Mahatma Gandhi se ele perdoava com frequência, e ele respondeu: "Não, ninguém nunca me ofendeu".
As pessoas ficam enraivecidas, pois estão sempre prontas para se ofenderem. As portas para as mágoas estão sempre abertas e os alarmes de identificação estão sempre ligados. As fronteiras do "eu" estão sempre muito bem delineadas de forma que a fragmentação e a diferenciação do "eu" e do "meu" é sempre exaltada enfatizando o sentimento de separação.
O isolamento notório é impulsionado por um anseio de autoproteção que esconde o enorme medo de se machucar. E se a motivação é a prevenção (e prevenção significa o ato de se antecipar às consequências de uma ação), a vibração emitida, a mensagem enviada só pode ser uma: Medo. Medo de ser magoado, invadido, desrespeitado, ridicularizado e etc.
Com esse medo sendo emitido a todo o instante essa predisposição às ofensas se torna a tônica das vidas de muitas pessoas, e, dessa forma o perdão um patamar difícil de ser acessado.
Pessoas que estão sempre prontas para agredir o próximo, que se ofendem com qualquer comentário e/ ou ação são aquelas que estão mais sujeitas a atrair tais coisas.
Pessoas que dizem ter perdoado os defeitos e faltas alheias e que continuam a repetir o mesmo padrão agressivo/ raivoso/ ansioso estão enganando a si próprias. Não mergulharam na raiz de seus problemas e não remediaram de forma eficaz as suas cicatrizes.
Muitas pessoas creem que transmutar a raiva e o ressentimento é não engolir sapos ou soltar os rojões pra fora quando se está explodindo por dentro. Mas, se o indivíduo não entender que é um trabalho interno e totalmente pessoal, mesmo cuspindo sapos ele tenderá a desenvolver alguma doença mais cedo ou mais tarde fruto desta constante e mal resolvida tensão interna.
Uma pessoa pode agir da mesma maneira com o João e o Joaquim, e o João se ofender e o Joaquim não. A ação emitida foi a mesma, porém, a reação completamente diferente. João não estava à parte, não estava se protegendo de nada. João estava à vontade com sua própria natureza e não recebeu a ação de forma ofensiva. Já Joaquim, interpretou o fato segundo suas próprias antenas que a todo instante trabalhavam em prol de um isolamento temendo uma agressão (e nós sabemos que aquele que se protege de algo tende fatidicamente a atrair exatamente aquilo que teme).
Penso que as pessoas que têm este padrão de comportamento são aquelas que delineiam fronteiras radicais dentro de si próprias. Pessoas que se cobram muito, que não se aceitam; que são rígidas e muitas vezes insatisfeitas com o resultado que obtêm de suas próprias ações.
A pessoa em questão deveria fazer uma pesquisa minuciosa dentro de seu universo interno e trazer à consciência tudo aquilo que ela rejeitou em si mesma, pois o perdão é um movimento de dentro para fora e não o contrário.
Somente quando aceitamos o que reprimimos dentro de nós e paramos de resistir é que o perdão naturalmente se realiza em nós... E quando paramos de resistir passamos a dispor de muito mais energia!
Era a isso que Gandhi se referia quando dizia que a raiva transformada se tornava uma energia capaz de mover o mundo!
As pessoas que agridem não o fazem para ofender, agridem para defender-se, assim como os animais. Muitas pessoas, julgando-se o centro do Universo, acreditam que o mundo inteiro aponta mísseis em sua direção com o intuito único e exclusivo de derrubá-las. Mas, não é assim que funciona. Não é essa exatamente a intenção-mãe.
O ser humano que realmente está apto a perdoar é aquele que realizou a árdua tarefa de se olhar no espelho e enfrentar seus próprios demônios. Este também é o ser humano que pode com propriedade dizer-se compassivo. À medida que se compreende o próprio sofrimento pode-se verdadeiramente compreender o sofrimento alheio. Não há como ser diferente.
O verdadeiro perdão nasce de uma auto-observação profunda e aceitação plena de todos os aspectos que uma vez foram interpretados como não aceitáveis.
Quando se compreende que não há do que se proteger, que se está seguro e confortável dentro de si mesmo, e mais: quando se percebe que nenhuma ação externa tem o intuito de ferir senão o próprio emissor, aí sim ninguém o ofenderá, aí sim, o perdão será uma realidade vívida, aí sim sua energia será capaz de mover o mundo!
Por: Mahatma Gandhi
Imagens: google.com
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