É estranho e paradoxal: ao mesmo tempo que amamos muito uma pessoa, com o passar do tempo as suas atitudes passam a nos irritar e nos incomodar demais. Perdemos a paciência facilmente e passamos a tratá-la com grosserias, pouca compreensão e até uma certa raiva...
Com as pessoas estranhas ou colegas de trabalho parece não acontecer o mesmo! Costumamos ter mais cautela e medir mais as palavras na hora de expressarmos algum descontentamento. Mas com a pessoa amada, rasgamos o verbo, xingamos e até ofendemos. Por quê?
Carl Jung, um dos precursores da psicanálise, já defendia a idéia de que o casamento (ou qualquer relacionamento íntimo e constante) é o tipo de relação na qual mais rapidamente podemos enxergar nossos próprios defeitos. Ou seja, a convivência com a pessoa amada é uma relação tão íntima, tão profunda e tão reveladora que, aos poucos, esta pessoa passa a apontar - consciente ou inconscientemente - nossos piores defeitos, nossas maiores limitações. E, convenhamos: isso é realmente irritante!
Mas, por outro lado, é também uma ótima e eficiente oportunidade de descobrirmos e admitirmos nossos erros para que possamos melhorar, crescer e nos transformar em pessoas melhores, mais inteiras e maduras. Além disso, se pararmos para analisar, poderíamos nos perguntar por que determinadas atitudes de nosso parceiro passam a ser tão imperdoável aos nossos olhos! Por que nos sentimos tão agredidos, ofendidos e desrespeitados por esta pessoa que, teoricamente, seria a que mais deveria nos agradar?
Será que, na verdade, o que nos irrita não é o fato de descobrirmos em nós mesmos esta falta de compreensão, de humor, de disposição, paciência e colaboração? Será que as cobranças da pessoa amada não recaem exatamente sobre nossas limitações, nos mostrando o quanto precisamos melhorar em algum ponto que tentamos ignorar a vida inteira?
É bem provável que seja justamente esta pessoa (para quem entregamos nosso coração, revelamos nossos segredos e confessamos nossos medos), a dona de uma cópia do mapa de nossos caminhos mais escuros, mais feios e mais desinteressantes... E, portanto, seja ela que esteja o tempo todo nos mostrando e nos lembrando sobre as características de nossa personalidade que mais tentamos esquecer ou mascarar. E, assim, inconformados com este poder que nós mesmos demos a ela, passamos a sentir raiva de suas atitudes e até dela mesma.
Mas, se conseguirmos enxergar estas situações irritantes como uma oportunidade de crescimento, talvez pudéssemos ser mais pacientes com a pessoa amada e usá-la como uma amiga, uma aliada, uma parceira no difícil e doloroso caminho da vida. E mais: também começaríamos a ser mais cautelosos e solidários para com esta pessoa quando fosse a nossa vez de criticá-la, de cobrá-la, de apontar os seus erros e espezinhar sobre suas limitações.
Sim! Porque não é somente o nosso parceiro que faz isso conosco. Nós também fazemos isso com a pessoa que, por sua vez, está contando com o nosso amor, a nossa amizade, um abraço, um conforto, qualquer forma de acolhimento...
Enfim, devemos saber – e nos lembrar sempre – de que o amor é um sentimento maravilhoso e que pode transformar a nossa vida numa grande alegria. Mas é também um grande mestre! Quando constituímos um relacionamento em nome do amor, devemos estar preparados para o crescimento que ele exige de cada um de nós! Se encararmos as dificuldades como empecilhos ou obstáculos, certamente este amor ruirá. Mas, se soubermos enxergar as situações difíceis como preciosas oportunidades de aprendizado, estou certa de que o amor só tende a se fortalecer.
Para isso, no entanto, precisamos ser humildes o bastante para aprendermos com a pessoa que amamos, para reconhecermos nela um ser humano com qualidades diferentes das nossas, com uma sabedoria particular, que pode acrescentar muitas lições à nossa vida. E assim, dispostos a reconhecer nossos defeitos e a ter compaixão pelo outro, poderemos transformar a nossa relação de amor numa maravilhosa oportunidade de evolução!
Por: Rosana Braga (Stum)
Imagens: google.com
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