segunda-feira, 23 de janeiro de 2012

As Perdas Podem Influenciar no Processo de Saudade

Saudade, palavra paradoxal e de muitos significados. Encanta, desencanta e se manifesta através de sentimentos como a tristeza, angústia, solidão e até mesmo a alegria. Ela está presente em nosso dia-a-dia, nas lembranças do tempo passado, das pessoas que amamos e dos lugares de onde viemos e por onde passamos. Ela é poesia, música e canção, e está inserida nos momentos de dor e felicidade do ser humano. Para uns, é uma palavra triste, para outros é apenas um sentimento que faz parte do nosso processo de crescimento. A saudade traz dissabores, mas resgata em nossa memória alegrias já esquecidas. Para entender a saudade, é preciso refletir sobre as várias perdas que sofremos em toda nossa vida e que começam a partir do próprio nascimento.

Perdas Inevitáveis

Segundo a pesquisadora norte-americana Judith Viorst, autora do livro "Perdas Necessárias", as perdas que temos durante nossas vidas não são apenas pela morte das pessoas queridas. Elas incluem, além das separações e partidas daqueles que amamos, a perda consciente ou inconsciente de nossos sonhos, expectativas impossíveis, ilusões de liberdade e poder, ilusões de segurança e a perda do nosso próprio "eu" jovem. E essas perdas, diz a pesquisadora, são "universais, inevitáveis e inexoráveis, porque para crescer temos de perder, abandonar e desistir". Todas as nossas perdas estão relacionadas com a "Perda Original, que é a conexão mãe-filho, que pode ter reflexos no decorrer de toda nossa vida. Se as separações não forem bem resolvidas, ressalta, "elas podem deixar cicatrizes emocionais no cérebro, porque atacam a conexão humana essencial: o elo mãe-filho que nos ensina que somos dignos de ser amados. Não podemos nos tornar seres humanos completos sem o apoio dessa primeira ligação".

Estudos mostram que as perdas na primeira infância nos tornam mais sensíveis e vulneráveis às perdas que sofreremos mais tarde. "Assim ao longo da vida, nossa resposta à perda de uma pessoa da família, a um divórcio, à perda de um emprego, podem ser causas de depressão grave - a resposta daquela criança desamparada, desesperançada e zangada", ressalta a pesquisadora.

De acordo com alguns filósofos, a morte é a perda mais aterradora, aquela que acompanha o ser humano desde a infância, quando se descobre o inevitável. À tristeza profunda pela morte, especialmente a repentina e prematura, somam-se outros sentimentos como a culpa e o inconformismo. Não há respostas fáceis para conviver com as perdas provocadas pela morte, mas segundo os especialistas, não se deve ignorá-la, sufocar as lágrimas, nem abafar o luto.

O envelhecimento é também uma das mudanças mais difíceis para o ser humano. Aceitar as perdas provocadas pela idade, requer uma avaliação do passado, que envolve os aspectos positivos e negativos de toda nossa vivência, e ao mesmo tempo, há de se considerar os desejos e as possibilidades para o futuro. É nesta fase, segundo a pesquisadora Judith Viorst, que a preocupação com a morte e a destruição estão mais presentes, e o homem tem a sensação mais profunda da própria mortalidade e da morte iminente dos outros.

A capacidade de mudar e crescer na velhice está ligada a própria história de cada pessoa. Mas, a chegada da terceira idade pode dar origem a novas forças e novas aptidões não acessíveis nos outros estágios.

A Dor do Amor

A dor da saudade, os encontros e desencontros da vida afetiva sempre estiveram demonstrados nas canções e poemas do nosso cotidiano. As perdas são universais e constantes, e sempre nos ensinam a alcançar a maturidade e o equilíbrio psicológico.

A saudade decorrente de uma grande perda pode nos levar a desequilíbrios emocionais irrecuperáveis. No amor, muitas pessoas se tornam totalmente incapazes para estabelecer um vínculo afetivo por medo de amar e sofrer grandes desilusões. Outros, com medo da solidão preferem manter relacionamentos opressivos .

O amor é uma fonte de grandes prazeres, mas também de muitas dores em todas as idades. Quando as coisas estão bem, as pessoas se sentem em estado de êxtase e harmonia, mas quando o amor se encaminha na direção da dor e do sofrimento, nos sentimos totalmente abandonados e desamparados.

Segundo alguns psicanalistas, o fim de um casamento pode ser uma perda maior do que a morte de um dos cônjuges. O sofrimento, a saudade, o desespero podem ter a mesma intensidade, bem como a sensação de abandono.

É preciso ser perseverante para superar não só as perdas por amor, como todas as outras que ocorrem durante toda a nossa vida. As dores existirão tanto para os que não as suportam, como para os que as aceitam e as toleram. A vida é marcada por repetições e continuidade, mas é também aberta a mudanças, e para crescer, deve-se renunciar a muitos projetos, pois não se pode amar profundamente alguém ou alguma coisa sem se tornar vulnerável às perdas.



Fonte: http://boasaude.uol.com.br/lib/ShowDoc.cfm?LibDocID=3780&ReturnCatID=1712
Imagens: google.com

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