Seu estado mental determina se você está no “céu” ou no “inferno”
A mente é um instrumento fabuloso – para quem souber usá-la. O que ocorre na maior parte dos casos, porém, é o contrário: somos levados pelo turbilhão que se forma na mente, podendo exercer pouco ou mesmo nenhum domínio sobre ela.
Estamos frequentemente à mercê da nossa própria mente. Dito simplificadamente, se acontecer de termos pensamentos agradáveis, ficamos bem. Mas se, do mesmo modo, pensamentos desagradáveis nos visitarem, ficamos mal. Se você já está podendo perceber isto – o quanto há de sofrimento desnecessário relacionado ao seu estado mental – então talvez você se interesse em ter uma participação mais consciente na determinação de como está sua vida a cada momento.
Isto que chamamos de sofrimento desnecessário (e que responde por uma boa parte das mazelas humanas) não passa de um conjunto de pensamentos. Inconscientes desta realidade e pensando compulsivamente, acabamos nos identificando com os pensamentos. É como se acreditássemos ser nossos pensamentos. Isto ocorre porque os pensamentos nos dão uma idéia de quem nós somos, uma idéia de eu. Identificados, não percebemos que somos não os pensamentos, mas aqueles capazes de observá-los.
Uma chave para sair da identificação com os pensamentos e desenvolver autonomia em relação a eles está em fortalecer o observador que há em cada um de nós, de modo que a consciência possa assumir o papel de testemunha. Através do exercício da auto-observação aprendemos a ver os pensamentos como entidades à parte de nós (embora, naturalmente, haja um sentido em termos tais pensamentos). Observando os pensamentos, aprendemos a não nos identificarmos com eles: Assim como o céu diante das nuvens, apenas observe os pensamentos vindo, e, sem se apegar a eles, observe-os indo. Simplesmente deixe-os vir e ir, permanecendo no lugar do observador.
À medida que fortalecemos o observador interior e conseqüentemente reduzimos nossa identificação com os pensamentos, podemos experimentar uma existência menos reativa, ampliando nossa margem de ação diante dos eventos e dos nossos próprios impulsos. Isto é possível porque o espaço interior aumenta com a auto-observação. Quando estamos identificados com os pensamentos, não nos damos conta do vácuo entre eles. Quando conseguimos enxergar os intervalos, a verdade surge e percebemos que não somos os pensamentos.
Há muito que se aprender com a auto-observação. Procure não julgar: bom ou ruim, agradável ou desagradável, certo ou errado, pois o julgamento aumenta o ruído interior, e neste momento o que você está buscando é tranqüilidade. Entenda que a paz só poderá vir se houver silêncio. Procure observar os pensamentos nas mais variadas circunstâncias e estados de ânimo. Em vez de reagir imediatamente às coisas, você pode esperar alguns instantes para se dar conta dos pensamentos que surgem. Para aqueles que quiserem ir mais fundo, há uma condição privilegiada para esta prática, que consiste em colocar-se em posição de meditação. Basicamente, trata-se de sentar-se com o corpo imóvel numa postura ereta, mas relaxada, em silêncio e de olhos fechados. Se quiser ir ainda mais fundo, tente não fugir do desconforto se ele aparecer, e apenas observe-o. Procure inicialmente tomar consciência das suas identificações e, gradualmente, ver os intervalos entre os pensamentos.
Tente responder a partir da sua observação: Que pensamentos e preocupações costumam ocupar minha mente? Que pensamentos relacionados ao passado e ao futuro costumam ocupar minha mente? Que tipo de situações imaginárias minha mente produz, ou seja, cenas criadas pela imaginação que ficam rodando na mente como se fossem trechos de um filme?
A observação sistemática revelará trilhas que se repetem mentalmente através de cenas, diálogos, etc., como se fossem filminhos. É bem provável que um exame honesto destas trilhas revele a presença de pensamentos com alguns dos seguintes sentidos: você brigando com algo ou alguém, ou não aceitando algo; você se defendendo ou atacando, argumentando, comparando ou justificando seu ponto de vista; você se sentindo ou procurando se sentir importante, de valor ou reconhecido; você buscando atenção ou um modo de agradar e sentir-se amado; você procurando compensar a solidão ou algum outro tipo de frustração; você re-visitando e re-editando cenas do passado (talvez com finais diferentes), realizando desejos, antecipando/ensaiando um evento futuro, ou ainda preocupado com que seus planos dêem certo.
Estas trilhas trazem informações importantes para nós, uma vez que expressam questões existenciais não suficientemente amadurecidas, que, por isso mesmo, são fontes de perturbação. Isto quer dizer que ficamos presos a estes pensamentos e seus sentimentos correspondentes não só por conta do vício em pensar, mas também porque em muitos casos trata-se de questões clamando por uma resolução. No mais profundo, podemos dizer que estes pensamentos com os quais estamos identificados estão destinados à preservação de uma identidade falsa, um falso eu que necessariamente leva à dor porque nos faz exigências impossíveis constantemente. A identificação destas trilhas repetitivas permite-nos saber com mais propriedade o que nos tira do aqui-agora, o que nos tira a paz, nos amarra, nos desperdiça.
É possível que num primeiro momento o barulho interno aumente, já que em geral estamos distraídos desta atividade mental devido à nossa absorção nas ocupações e à falta de prática de auto-observação. Pelo mesmo motivo, é possível também que experimentar o silêncio e o vazio se mostre desafiador num outro momento. E é fácil compreender que seja assim: desde o nascimento, estamos voltados para fora, nossos sentidos nos abrem para fora. A última coisa de que somos conscientes é de nós mesmos! Mas, como dissemos, o ganho de silêncio interior que o exercício da auto-observação proporciona pode ser muito útil na conquista da paz e da serenidade. Às vezes, algo que tendemos a rejeitar inicialmente pode se mostrar muito interessante se aceitarmos experimentar por um certo tempo. Se o ser humano soubesse o que há neste vazio para ele, pararia de fugir através de tantas ocupações. Pois é nesse espaço que cada um pode se encontrar consigo mesmo, pode se encontrar com a verdade.
Por: Luiz Claudio Pezzini
Imagens: google.com
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