sábado, 28 de abril de 2012

O tempo que não passa

Quem já perdeu algo precioso na vida? Quase todos. Quem já se sentiu desorientado, perguntando por que o tempo do relógio passa, passa e não cura aquela ferida? Dizem que o tempo cura tudo...

É que não falamos aqui do tempo externo, aquele que marca as horas, dias e meses do mundo num ritmo idêntico para todos.

Falamos de outro tempo, o interno, o de dentro, regido pelas nossas lembranças, pelas nossas emoções, por tudo aquilo que perdemos e que relutamos em esquecer. Esse é o tempo do luto, que anda conforme as sensações e sentimentos de cada um; e por isso é diferente para cada pessoa...

A história de uma perda não é, portanto, uma linha reta, mas uma curva, um círculo marcado por linhas cruzadas que piscam para nós, forçando a presença do passado na memória atual, resistindo a qualquer linearidade cronológica e construindo uma realidade interna que nem sempre coincide totalmente com a externa.

A Dra. Kubler-Ross, há mais de 30 anos, descreveu os cinco estágios pelos quais passamos quando entramos de luto; e luto significa qualquer perda importante: a notícia de uma morte, de uma doença grave, a separação de um amor, até o envelhecimento para algumas pessoas.

1. Negação (e possível descrença): A pessoa pensa "Isto não pode estar acontecendo comigo!". É o início do luto, naquele momento em que parece que se assiste um filme e não que aquilo acontece na realidade. As pernas parecem não sustentar o corpo, há um peso esmagando o peito e o estado de confusão é comum. Nesse estágio, muitas coisas perdem o sentido, e até as tarefas mais simples podem ser difíceis demais de serem realizadas.

2. Raiva: A pessoa se sente contrariada: "Como pode Deus (ou a vida, ou o destino) fazer isto comigo?". Depois da fase de "torpor", pode surgir um período de grande agitação e ansiedade pelo que foi perdido. A pessoa não consegue relaxar ou concentrar-se e o sono pode ser bem alterado, como se o organismo estivesse alerta o tempo todo para defender-se de decepções como essa. Nesse estágio, a pessoa em luto sente-se muito zangada e revoltada: contra médicos e enfermeiros que não conseguiram impedir a morte, contra os amigos e familiares que não deram o seu máximo, com as autoridades no caso de um acidente aéreo, por exemplo, ou mesmo contra a pessoa que perdeu e assim a deixou.

3. Barganha: A pessoa pensa em alguma negociação possível com a emoção: "Preciso de mais tempo para realizar alguma coisa positiva". Os sonhos que surgem nesta altura podem ser muito vívidos e algumas pessoas chegam mesmo a "ver" quem perderam, na rua, em casa e em todo lugar que os faça lembrarem. Outro sentimento comum neste estágio é o sentimento de culpa: pensar em tudo aquilo que podia ter sido feito ou dito e que já não tem retorno ou mesmo em algo que pudesse ter evitado essa morte. A morte em si é geralmente um acontecimento que está acima do controle de todos nós, então a culpa pode surgir depois de se sentir alívio pela morte de alguém que nos era muito querido, mas que sabíamos estar sofrendo, porque é um sentimento que serve como um bode expiatório nessa fase.

4. Depressão: "Não posso suportar passar por isto, ou fazer minha família passar por isto". As datas de aniversário de nascimento, casamento, assim como outras datas (Natal e Ano Novo por exemplo), são ocasiões de muito impacto e recordações. Elas podem acionar crises de choro e estados depressivos, e o estado de agitação referido na fase da raiva e barganha é geralmente seguido de períodos de grande tristeza, isolamento e silêncio. Esta mudança súbita de emoções pode deixar as pessoas ao redor confusas, mas apesar de silencioso, é um estágio extremamente importante para a resolução do luto, pois leva a pessoa a pensar com profundidade em tudo que viveu e escolher enfrentar o perdeu, e voltar à vida normal o mais rápido possível.

5. Aceitação: "Estou pronto, não quero lutar mais contra". À medida que o tempo interno passa, as fases negativas do luto começam a desaparecer. A depressão atenua-se e começa a ser possível pensar em outros assuntos. No entanto, o sentimento de perda nunca desaparecerá por completo. Depois de algum tempo, deve ser possível sentir-se de novo inteiro, apesar de faltar sempre uma parte de si que nunca será substituída.

Procure saber, independente de quanto tempo externo se passou, em que período do luto você está, para ajudar todas essas emoções a se decidirem, como elas vão lidar com essa morte, internamente, daqui pra frente: como vão enfrentar o problema da ausência, sabendo que será para sempre? Como vão diminuir a angústia da saudade, como vão aceitar?

Haverá dias em que a ausência parecerá algo muito recente, ainda muito doído. Em outros momentos, haverá uma impressão de melhora, como se o sentimento de falta houvesse rapidamente passado. Sem dúvida, o tempo do relógio irá ajudar a entrar novamente na realidade, com o difícil encargo de aprender a conviver com o sofrimento, seja por ter que tocar a vida, pagar contas ou cuidar da família.

Chegar no estágio da aceitação não é simplesmente conformar-se com o que aconteceu, mas é, espontâneamente abrir mão daquela memória, deixar ir o que causou o sofrimento, ou lembrar-se sem sofrer. Você não pode controlar a dor que vai te acontecer na vida, mas pode controlar como vai reagir a ela, decidir se vai se deixar enterrar junto com aquilo que morreu, ou vai guardar o melhor da história dentro de você. Para poder olhar novamente para o futuro, fazer planos e realizar sonhos!




Por: Sonia Belotti
Imagens: google.com


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