No balcão da lanchonete do aeroporto, dois cartazes enormes anunciavam: "Café Nº. 1: café, leite, pão etc." e "Café Nº. 2: chá, suco, frutas etc." Acomodei-me numa mesinha e a garçonete se aproximou.
- Por gentileza, um "Café Nº. 2" - pedi, preferindo me manter light antes do vôo.
- Hein?! Café para dois?! - espantou-se a garçonete por eu estar sozinho.
- Não, minha filha, "Ca-fé Nú-me-ro DOIS!" - soletrei, carregando no número.
- O que é isso? - perguntou surpresa.
- Me diga você. É o que está anunciado naquele cartaz ali, ó... - apontei para o balcão.
- Ah! Não tinha visto o cartaz.
Será que para trabalhar entre empresas aéreas as lanchonetes contratam garçonetes aéreas? Acho que não. Ou a garota era desligada ou era indiferente.
Pessoas desligadas perdem a visão periférica. Pessoas indiferentes preferem não tê-la. Relapsos são indiferentes; artistas são desligados. Se a garçonete era uma artista em potencial eu não sei. Talvez seu sonho fosse ser aeromoça, daí estar tão avoada.
Já o indiferente é diferente. Ele ignora deliberadamente o que acontece ao redor e traz uma mensagem tatuada na língua: "Não sou eu o responsável". Não é mesmo. O responsável vive atento para detectar problemas, trabalhar em soluções e apontar oportunidades. O indiferente prefere ficar na dele até quando o barco está afundando. Pra que se preocupar se o furo não está sob o seu assento?
Se você acha que pessoas assim não conseguem emprego está enganado. Tem muito chefe por aí que adora contratar indiferentes. São chefes que preferem subordinados que não enxerguem além do campo de visão do tapa-olhos que recebem junto com o crachá. Ter subordinados de visão é arriscado. Eles podem ver aquilo que o chefe não vê, não quer ver ou não quer que outros vejam.
Mas não é isso que o mercado exige de um bom profissional. O mercado está tão complexo, rápido e mutante, que é preciso ter pescoço de coruja para enxergar 360 graus, ouvidos de morcego para voar no escuro e focinho de cão perdigueiro para não perder o alvo. Além de conectividade, muita conectividade, para andar a par e passo com a equipe.
Uma boa equipe não precisa fazer uma reunião de duas horas para decidir a melhor data para a próxima reunião. Basta um olhar, um sinal ou uma senha para todos saberem o que está acontecendo e o que cada um deve fazer. Chame a isso de sintonia ou sincronismo se quiser, ou modernize o conceito para conectividade.
Palestrantes sabem o quanto essa conectividade é importante quando dependem de alguém para fazer a troca dos slides e descobrem que a pessoa designada para isso passou a noite trabalhando em outro evento. Pode apostar que ele será o primeiro a dormir na palestra.
A conectividade da equipe é importante em todas as atividades que exigem sincronismo, mas em alguns segmentos ela se torna vital, já que qualquer distração traz conseqüências mais graves do que apenas saltar um slide. É o caso de um estúdio de TV, onde as pessoas precisam estar afinadíssimas, especialmente quando o programa é um telejornal ao vivo transmitido para milhões de espectadores em todo o mundo.
Por: Mario Persona
Imagens: google.com
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