terça-feira, 24 de abril de 2012

Nosso inimigo, o Ego

Pode parecer estranho um título desses, principalmente depois de haver escrito que a sombra é a nossa amiga. E pode parecer mais estranho ainda quem tem uma noção de “psicologia do ego”, achando que essa é a estrutura mais importante da consciência e se perguntando como é que nossa identidade pode ser nossa inimiga. Seriamos nós inimigos de nós mesmos?

Já dizia Thomas Hobbes que “o homem é o lobo do homem”. É claro que aqui ele estava olhando não de um ponto de vista psicológico, mas sim social, falando sobre a ferocidade que um ser humano é capaz de manifestar a outro, nas agressões, assaltos, assassinatos, ataques de raiva, xingamentos, etc. Mas se podemos fazer isso com os outros, o que não seriamos capazes de fazer contra nós mesmos, certo?

O Ego, para quem não sabe, é a estrutura da mente que reúne nosso senso de identidade, realidade e personalidade. Dentro da teoria freudiana, o Ego é uma de três estruturas básicas da mente e divide espaço com o Id e o Superego. Dessas três estruturas, somente o Ego aparece em outras teorias. O Id e o Superego são exclusivas da psicanálise.

Jung reconhece o Ego como sendo um complexo – uma reunião de ideias e afetos em torno de um núcleo temático comum – o complexo da identidade de eu ou simplesmente o Complexo de Eu. Complexos dentro da teoria junguiana não são necessariamente ruins. Eles são as estruturas básicas da psique. E o Ego é o nome dado ao complexo central da consciência, que reune tudo o que sabemos de nós mesmos. Enquanto a Sombra reúne o que identificamos como sendo “não-eu”, o Ego reúne todas as ideias, afetos e imagens relacionadas ao “Eu”.

Memórias de infância, nossa imagem corporal, nossos projetos, sonhos e desejos, nossos pontos fortes e fracos, nossos gostos pessoais e todo o mais que identificamos como nosso, ou melhor, como sendo “eu”, forma o nosso Ego. Mas como é que isso pode ser o nosso inimigo, se o Ego é quem nós somos?

Acontece que no Ego reunimos também nossos valores principais e nossa auto-imagem. E geralmente esses dois pontos são tão centrais e fundamentais que raramente são observados ou alterados. Posso dizer que a grande maioria dos problemas do dia-a-dia se dá por uma má sintonia entre essas questões e a realidade. Geralmente acreditamos em algo com tanta força que isso nos impede de ver outras além – e que muitas vezes são até melhores. Ou ainda nos vemos de tal forma que isso nos impede de seguir por outros caminhos. Vou dar alguns exemplos:

Uma pessoa orgulhosa é vista como sendo forte diante dos outros. O orgulho é uma auto-admiração e em termos psicológicos, é um caminho de retro-alimentação da energia do Ego. Quanto mais orgulho, maior é a força do Ego. Mas uma pessoa orgulhosa acaba não vendo seus próprios erros ou não admitindo novas possibilidades ou qualquer coisa que venha de fora ou que ameace a integridade do Ego. A pessoa assim se fecha em seu próprio erro, em sua própria teimosia e, ao não admitir coisas externas, entrea em um ciclo que pode levar a algo bem negativo.

Uma pessoa com uma auto-imagem forte vai ver suas características como qualidades e pode demorar muito para perceber que uma dessas características o está levando a um mal caminho ou está prejudicando outra pessoa. Alguém que se ache melhor que as outras, mais bonita ou esperta, não vai perceber quando essa forte auto-imagem estiver maltratando alguém ou machucando através de palavras ou omissões.

Além disso, quando algo acontece e esse orgulho ou auto-imagem se quebram, a queda é grande. E aí surgem novas dificuldades e problemas. Quando uma pessoa que acredita fortemente que o seu jeito de viver é o correto de repente percebe que ela está errada, ela custa a admitir que ela viveu sua vida toda como uma mentira. Ela sofre, justamente porque não quer se desfazer da imagem construída por seu Ego. E é aí que nós nos tornamos nossos maiores inimigos.

Uma psicologia centrada no Ego e que esquece os outros complexos como sendo importantes acaba por não perceber que o próprio Ego precisa abrir mão de sua força e o sujeito precisa também saber trabalhar com seus outros complexos. Sua sombra pode ser sua aliada, mostrando coisas que o Ego não conhecida ou não queria saber mas que podem ser de vital ajuda.


"Meu Ego estava prejudicando minhas abilidades de liderança, então eu dei um jeito nele..."

A humildade é uma característica de descontrução do Ego. Uma pessoa humilde é aquela que conseguiu tirar grande parte de sua energia desse complexo, permitindo que outras coisas possam vir à tona. Um lider humilde, por exemplo, é aquele que, por mais que saiba que ele é bom no que faz, fazer tudo baseado em si-mesmo nem sempre é a melhor solução. É necessário ter humildade para reconhecer os nossos limites antes que isso se torne um problema.

Tudo na vida precisa ser flexível, principalmente o nosso Ego, nosso senso de identidade. Não podemos acreditar que nunca mudamos, pois sempre somos pessoas diferentes. Como disse o velho sábio Heráclito uma vez, “nunca atravessamos o mesmo rio duas vezes”, pois da segunda vez tanto o rio quanto nós mesmos já não somos mais os mesmos. Se soubermos aprender com isso, quem sabe o nosso Ego pode deixar de ser o nosso maior inimigo e se tornar nosso aliado.




Por: Pablo de Assis

Imagens: google.com


Nenhum comentário:

Postar um comentário