Em que grupo você se encontra? Se estiver no primeiro grupo, talvez saiba o quanto esses sentimentos nada trazem de positivo em sua vida e se quiser pode buscar um entendimento sobre o que deve estar acontecendo com você. Sua maneira de ver a morte ainda não se ampliou, está restrita ao sentimento de perda. Mas o que perdeu de fato? Tudo o que viveu ao lado daquele que partiu ficou em você, não ficou? Qual a finalidade da revolta e da tristeza então? Acredito que se nos colocarmos numa predisposição de ver melhor as situações vamos entender que esses sentimentos só servem para mostrar o quanto essa tendência humana de ficar no individualismo está prevalecendo.
O sentimento de perda nos deixa na dimensão da posse, só se perde aquilo que se acreditou ter. Ainda caminhamos pelas relações, movidos por essa idéia de que as pessoas nos pertencem e que temos o poder sobre a vida delas. Sendo assim como admitir o fato de alguém ter sido tirado de nós se não desenvolvermos a serenidade para aceitar a nossa impotência diante da única certeza que temos: de que um dia todos nós seremos arrebatados dessas relações pela morte. Interessante pensar que vivemos em busca de tantas certezas e que nessa busca muitas vezes deixamos de realizar, mesmo diante da única certeza que existe, a morte, não nos preparamos e também deixamos de realizar muito. Você deve estar pensando como seria estar preparado para esse momento tão certo de separação. É possível que existam muitas respostas para essa indagação, entretanto escolho uma que acredito ser possível de se conseguir: viver como se hoje fosse o último dia da sua trajetória, com as pessoas que escolheu para estar ao seu lado. Sua atitude poderia ser a de realizar tantas coisas que sem perceber foi deixando para depois. Quantas vezes demonstramos amor e gratidão por alguém?
Muitas vezes, a revolta e a tristeza vem desse saber inconsciente de que não soubemos usufruir da companhia de quem partiu. Para se livrar definitivamente desse estado, entre em contato com todos os momentos que viveu junto dessas pessoas que já não estão mais ao seu lado, não importa se foram bons ou não. O que vale, é você saber que teve essa oportunidade. Certamente, em algum momento você conseguiu dar e receber algo significativo. Classificar de bom ou de ruim o que se viveu ao lado de alguém é uma questão de escolha. Podemos escolher olhar para essas trocas como os recursos para desenvolver o amor, se não desenvolvemos na relação com quem já partiu, que seja com quem ainda está ao nosso lado.
O dia de hoje pode ser sentido de outra maneira. Transforme a revolta em compreensão e aceitação, pois você sempre soube que um dia teria que viver essa separação. Transforme a tristeza na alegria do reencontro que um dia virá. Leve a compreensão e a alegria para as relações que ainda está tendo a oportunidade de viver. Faça diferente daqueles que se encontram no segundo grupo e preencha os espaços dessas relações com atenção e carinho.
Assim poderá fazer parte do terceiro grupo que tem o privilégio de apenas sentir saudades, mas tem confiança de que tudo está certo, de que tudo faz sentido e de que vale a pena viver mesmo longe daqueles que um dia fizeram parte da sua trajetória.
Se o dia de hoje é para direcionar as nossas homenagens aos mortos, muito mais que flores e velas, vamos direcionar à eles os mais belos sentimentos, como os que sentimos ao contemplar a beleza das flores e a luz do nosso amor que muito mais que a luz das velas, iluminará os novos caminhos que estão a percorrer em direção à Luz maior.
Izildinha Bagolin
Fonte: Núcleo de desenvolvimento humano e espiritual
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